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terça-feira, 7 de setembro de 2010

Bastonário, é quase o meu ídolo! (por hoje)

Nunca fui grande fã do dr. Marinho Pinto. Sempre achei que pôr a justiça a ser discutida com pessoas que não entendem nada dela e que apenas querem audiências, fazendo julgamentos sumários em plena hora do almoço e da tarde não é comportamento de um representante dos advogados. Mas não pude deixar de ganhar um respeito acrecido por ele, quando ontem em plenos "Prós e Contras" teve a coragem, sem medos de reacção, de dizer aquilo que pensava ao júíz ali presente.

Já demonstrei a minha reacção quanto ao Processo Casa Pia. Admito que os abusos aconteceram mas cada vez menos admito que os condenados da ribalta sejam verdadeiramente culpados. São opiniões, que na verdade acabam por ser subjectivas.
E o triste é isso. É que depois de uma condenação ainda se possa pensar que isto é subjectivo... e tudo porque durante mais uns dias ainda se não teve acesso ao acórdão. É evidente que a juiz não incumpriu a lei. Se pode só ser lida uma sumula do acórdão, então lê-se. Mas é evidente também que tinha que ser disponibilizado o acórdão após a leitura da sentença. Quanto mais não fosse para evitar todo este falatório, todo este incidente ao juntar aos já muitos. E nenhum juiz poderia ignorar que isso ia acontecer.

Para mim tudo isto não passa de uma caça às bruxas, de um grande circo mediático. Em pleno século XXI, grande parte da população ( a mesma que se arrepia de ver mulheres a serem condenadas por apedrejamento em outros países) ficaria feliz, se de pipoca na mão e coca cola na outra, fosse assistir em plena rua, aos enforcamentos daquelas pessoas. E é triste. Porque no mesmo prato da balança está o sofrimento daqueles rapazes... mas também o sofrimento passado aos bocadinhos, em câmara lenta, hoje um pouco, amanhã mais outro, daqueles condenados. Basta que um esteja inocente para isto ser atroz. E se entendo que a população queira "sangue", não perceba as leis, não entenda o formalismo não posso aceitar que juízes, formados para o efeito, não prevejam isso mesmo e tenham atitudes que levantem ainda mais seleuma.

Por isso ontem ganhei um novo respeito pelo Bastonário. Verdade verdadinha

sábado, 4 de setembro de 2010

Somos todos juízes de bancada sem perceber um c# de justiça

Sempre tive umas ideias politicas viradas para a direita. Terá talvez a ver com a educação que tive, com o sitio onde cresci, com ideologia e concepção pessoal. Admito no entanto, que sou competa e absolutamente contra extremos e que (talvez contradição) o melhor momento para mim na história de Portugal foi o 25 de Abril (o meu ídolo é Salgueiro Maia).

E porquê a confissão destas minhas ideologias, muito ao de leve é certo? Porque por mais que tente não entendo o ser humano. E eu até faço um esforço. Esta coisa da casa Pia novamente, este reveiver de fantasmas, este circo ridiculo em que a vida das pessoas é transformada em novela, com direito a horário nobre tira-me completa e absolutamente do sério.
Os senhores foram condenados. Ponto. Mas lendo os inúmeros comentários na net (a que me dou ao trabalho) não entendo as pessoas. Não consigo. Somos todos um raio de uns comentadores de bancada. Sabemos tudo sobre tudo. Temos opiniões sobre tudo. Julgamos toodos. Somos juízes crediveis, a voz da justiça a clamar ao vento. Somos inteligentes. E entramos na m#$%@ da contradição.
Vi comentários de pessoas que dizem que isto não é um estado de direito porque eles não foram logo presos. Pessoas que têm a lata, no meio da maior burrice e mediocridade de dizer que isto parece um estado fascista porque eles não foram logo presos e andam a dar conferências de imprensa. Mas isto tem alguma lógica? Um estado de direito não é isso mesmo? Não é dar oportunidade às pessoas de se defenderem por todos os meios? Não é assegurarmo-nos que ninguém é preso injustamente sem primeiro esgotar toda a possibilidade de recurso que um estado de direito lhes dá? Então mas queremos justiça e não queremos que ela se faça? Queremos que ninguém seja condenado sem verdadeiras provas e depois chateamo-nos por ver isso na prática?

O povinho, a popoluça, da qual eu faço parte (infelizmente) é uma massa muito fácil de levar. Influenciável. E que nunca irá em frente, nunca pensará por si própria (apesar de verdadeiramente convicta que sim) e deixar-se-á influenciar por jornalistas e estórias mal contadas.

Se vamos ser emotivos e acreditar no que as pseudo vitimas contam, se vamos ignorar a justiça formal (que o 25 de Abril tanto lutou) não falemos em conceitos de direito, não falemos em democracia. Se queremos justiça popular então chamemos as coisas pelos nomes, sejamos medíocres e hipocritas e admitamos que queremos apredejar em praça publica (com as mil pedras que sempre temos no bolso) só porque na televisão é feita uma caça às bruxas.

Não sejamos incoerentes. Pensemos uma vez na vida. E sobretudo não sejamos contraditórios. Se queremos justiça e um estado de direito, admitamos e percebamos que enquanto os meios de recurso não se esgotarem ninguém pode ser preso. È isso que queremos, foi isso que o 25 de Abril trouxe. E se entretanto os crimes prescreverem... bem, é o preço a pagar pela democracia e por um processo formal que tanto queremos.

Mas sobretudo, não digamos que isto é fascismo. Porque é exactamente o que isto não é!

P.S. É nestes momentos que tenho pena que não possamos calar estes pseudo juízes ridiculos e mediocres. E sei que a democracia dá voltas no tumulo em que se encontra instalada.

P.S.1. E esta Catalina Pestana? Credo, que mulher ridicula!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

pois eu acredito

Sei que estive demasiado tempo ausente deste meu espaço de escrita. E o que vou dizer agora não tem qualquer fundamento juridico, não tem qualquer conhecimento e baseia-se agora em mera convicção pessoal. Mas eu acredito na inocência de alguns dos agora condenados arguidos do processo Casa Pia. Acredito sem ter justificação, sem fundamento legal, como quando acreditamos em Deus sem ter provas.

E o que mais me entristece é ver que aquilo a que dedico a minha vida e que se chama justiça, tenha chegado ao cumulo no meu espirito, de ter a mesmo fundamento lógico da fé. Ingenuidade pura da minha parte. Sempre o raio da ingenuidade.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Família Família e a minha fase dread - Anabela esta é para ti


“Família Família” é daqueles programas que nos fazem sentir vergonha só por estarmos a ver. Nesta noite chuvosa de Sexta-feira, aqui na aldeola sem mais que fazer se não agarrar-me à Lolita, vejo pela primeira vez, com um pouco mais de atenção do que o programa merece, esse espaço televisivo chamado Família Família, onde famílias se reúnem e prestam provas musicais e de dança numa tentativa de ganhar. Confesso ainda, que sendo a primeira vez que vejo o programa e apanhando-o a meio, não sei ainda qual será o prémio tão fantástico que leva gente normal a sujeitar-se a tamanho vexame e vergonha. Deduzo que seja alguma coisa muito boa.
Hoje estão em guerra a família Guerra contra a família Proença. Cada núcleo familiar sujeito à vergonha tem uma miúda pequena. E as pobres coitadas, não devem entender na certa que fazem ali. Existem também dois homens adultos que embora sorrindo, quando virem as gravações se devem arrepender de morte de se sujeitarem a tal.
A apresentar está essa senhora da dança Sónia Araújo. Porque confesso que a admiro na sua dança, não já na sua apresentação. Lembro-me dela miúda e loirita, insonsa e sem graça, a apresentar a praça da alegria, com muita falta de jeito e ao lado de um Luís Goucha de bigode. Passaram mais de quinze anos desde então. Luís Goucha cortou o bigode e mudou de canal, a praça mudou de formato, Sónia Araújo pintou o cabelo e já não é miúda. Mas na minha opinião continua insonsa, sem graça e nenhuma ponta de jeito.

Como jurado do programa está Pacman, elemento do grupo Da Weasel. E aproveito aqui, agora que o vi e me fez lembrar da minha adolescência para revelar os meus tempos em que era fã dos Da Weasel, tinha posters deles colados dentro do armário (a minha mãe proibiu que desse cabo da pintura do quarto com fotografias de tipos cabeludos e mal vestidos – nas palavras dela) e ouvia música deles em altos berros quando estava sozinha em casa.
Todos nós temos uma fase da vida em que por estupidez própria queremos de alguma forma esquecer. A minha, que tento pôr escondida em memórias difusas foi na altura dos meus 13 – 16 anos. Nesses áureos tempos eu decidi com toda a força que as raparigas eram chatas e que devia vestir-me a rapaz numa tentativa infrutífera de me confundirem com um deles. Estavam na moda as calças de bolsos, largas e grosseironas que tinham os fundilhos no joelho. Quem da minha geração não se lembra da moda em que os rapazes mostravam com orgulho os boxers, num medo eminente que as calças caíssem? O expoente máximo dessa moda na minha turma era o Miguel, loiro e de olhos azuis, que caminhava de tal modo torto por causa das calças que um dia o professor de História, barrigudo e triste, sem ligar às modas, ameaçou puxa-las de vez.
Eu com todo o desgosto da minha mãe que ansiava por me ver de saia, vestia essas calças acompanhadas de grandes t-shirts e sweatshirts, e um horroroso boné do Benfica, com a pala para trás. Eram momentos tristes, em que conjugava a moda à minha maneira, com umas fitas multicoloridas na cabeça, a condizer com a camisola. Os ténis grosseirões faziam a festa, e houve uma vez, muito, muito distante, em que tentei convencer a minha mãe a fazer um piercing na sobrancelha e no nariz, uma tatuagem no pescoço e rastas, tudo de uma só vez. Ela olhou-me com desdém e perguntou se pretendia morar no galinheiro. Até hoje acredito que tem pesadelos de mim a chegar a casa com múltiplos brincos e tatuagens foleiras. Só não sonha com as rastas porque não sabe o que isso seja.
O ponto alto da minha vestimenta e da moda estranha, das camisolas onde cabiam sete como eu e das calças quase a cair junto aos ténis grosseiros deu-se quando eu fiz o crisma e tive uma discussão tremenda com a minha mãe. Hoje entendo que ela só não queria passar vergonha em frente à restante família, uma vez que a perspectiva de me ver ajoelhar em frente ao Bispo com uma boina vermelha com a pala para trás era demasiado atroz. Mas na altura, quando vi a saia que ela me obrigou a levar amuei durante três dias e afirmei convictamente (até o meu pai levantar a voz e acabar com o amuo) que não ia fazer crisma nenhum.
Foram estes os meus únicos momentos de rebeldia. Mas a minha mãe ameaça sempre que se lembra da humilhação sofrida ao ver a única filha com roupas de pedinte, contar aos netos as pisadas da mãe, numa vingança premeditada. E eu, com medo, queimei todas as fotografias da época. Sobrou apenas uma que escondo muito bem escondida, ao lado das fitas e da única t-shirt existente.
Há uns tempos atrás, tive a possibilidade de conhecer uma rapariga, também filha única, com quem me identifiquei em muita coisa. O ponto alto da nossa amizade deu-se no dia em que descobri que também ela se vestiu da mesma forma. Hoje, somos as duas licenciadas em Direito e trabalhamos num escritório de advogados. Não seria lindo aparecermos um dia no trabalho com tais roupas?

Como última nota resta dizer que, não obstante ter deixado a roupa atroz para trás quando cheguei ao décimo primeiro ano, a minha admiração pelos Da Weasel continuou até ao primeiro ano da faculdade, altura em que na minha primeira queima os vi ao vivo e descobri que o PacMan tinha barriga e eles cantavam desafinados. E hoje, vejo esse ilustre que me levou às loucuras descritas, a avaliar crianças a cantar desafinadas e pais e dançar desajeitadamente. Sinto-me velha.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Dia dos namorados mascarado de carnaval


Domingo dia 14 de Fevereiro de 2010 e estão reunidas num só dia, duas ocasiões que repudio com todas as forças (para não dizer detesto e ficar com ar de menina mimada): Dia dos namorados e Domingo de Carnaval. Pois é! Quem ler com alguma atenção este blogue (que duvido bem que alguém o faça, uma vez que as pessoas têm coisas mais interessantes que fazer) há-de reparar com incredulidade talvez, que parece que odeio todas as épocas, visto o hino anti-natal que proferi acerca de dois meses. Mas não odeio por odiar. Há circunstâncias que assim o impõem.

Esta tarde, depois de almoço, estando eu fechada em casa em autêntica prisão domiciliária devido ao estudo para os exames, de volta de uma matéria capaz de provocar náuseas aos mais fortes, depois de um almoço rápido, perante a imperativa necessidade de tomar um café, saí de casa ainda ensonada e com ar chateado devido ao frio horroroso que me congela o cérebro já de si congelado.
Primeira chatice, a pastelaria onde costumo ir sempre (sou uma pessoa consistente e frequento sempre os mesmos lugares) estava fechada. Começando já a ficar irritada dirigi-me a outra mais próxima. Entrei ainda sem dar conta do cenário espantoso que me esperava. As cadeiras e mesas, colocadas normalmente ao acaso pelo espaço estavam artisticamente dispostas numa espécie de coração mal feito. Nas paredes, enormes corações de cartolina vermelha estavam escrevinhados em caneta azul com ditos espirituosos e românticos (a noite cai e o dia amanhece, só meu amor por ti não desaparece) que nenhum escritor teria algum dia tamanha imaginação de inventar. Sentei-me ligeiramente enjoada perante o casalinho da frente que de tão colado mal deixava perceber onde começava um e terminava outro e tive a infeliz ideia de ficar numa das mesas do canto, ao lado de um anjo feio que parecia ter sido um boneco chorão em tempos áureos e estava agora vestido com um tutu cor-de-rosa encimado por um nariz desproporcionado e vermelhusco.
Na minha mesa estava colado, com fita-cola grosseira, um coração mais pequeno com mais um dito espirituoso que me comoveu até ao enjoo (o único desafio a enfrentar no amor é o medo de amar) e copiado de certeza da internet. E enquanto bebia o meu café com ares de medo do vómito eminente, perante o ambiente escurecido, reparei que as luzes tinham sido revestidas por um papel de seda vermelho amarrotado.
Tão atarantada perante esta efusão de amor saí a correr da pastelaria, tentando pagar sessenta cêntimos com uma moeda de vinte mal enfrentando o ar chateado da empregada que de certeza escrevinhara os corações. E enquanto me dirigia ao mini preço mais próximo frustrada por este dia que faz sentir os pobres e tristes que estão sozinhos como eu e não têm perspectiva de companhia, ainda mais tristes e mais sós azedos com a vida, sem chocolates e flores, ditos românticos e noites escaldantes, dei-me conta que a cidade, na Avenida principal, estava repleta de vendedores de doces e balões, pipocas e algodão doce.
Ainda mal refeita do choque sem perceber que era carnaval, um bando de miúdos mal-educados, vestidos com fatos garridos de bruxos, princesas e coisas idênticas presenteou-me com um banho de serpentinas e fitas brilhantes que imediatamente se entranharam no cabelo devido ao vento horrível. Devido a este infeliz incidente desisti de ir ao mini preço comprar o pão e, depois de comprar uma regueifa com ar apetitoso, que um cigano sujo me pôs num saco, dirigi-me para casa praguejando entre dentes perante a efusão de balões e cores e corações nas montras.
Mas como a minha vida tem esta coisinha fantástica da ironia, antes de chegar à esquina de casa, dei de frente com um miúdo magro e sujo, sentado descalço, a tocar mal e desafinadamente um acordeão, tendo ao lado, um cão pequenino com um cesto na boca ainda com poucas moedas.
E perante o ar triste do pobre cão e as mãos roxas do pobre miúdo, porque para além de estar em prisão domiciliária fechada para exames, tenho coração de manteiga, despejei as moedas que tinha na carteira no cesto do miúdo e ofereci-lhe a regueifa que trazia no saco.

Resultado, cheguei a casa sem pão, sem regueifa, com o cabelo repleto de papéis coloridos que me sujaram o chão do quarto, com o estômago embrulhado de tanto amor oferecido nas montras e ainda com menos de vontade de estudar a treta que me obrigam. Liguei a televisão num derradeiro acto de esperança. Os canais de música passam músicas lamechas e românticas, os canais de filmes presenteiam-nos com comédias apaixonadas do século passado. Não fosse o canal da assembleia da república a passar a audição do ministro do trabalho, entraria de certeza em paranóia.

Porque é que ninguém se lembra de inventar o dia dos solteiros, viúvos, divorciados, separados-momentaneamente-mas-com-esperança-de-voltar, ou dos que estão a dar um tempo? Porque nós, que nos inserimos nessa categoria, já de nós frustrados e abandonados sentimo-nos ainda mais frustrados e abandonados perante tanto amor e saltitar pelo ar, mas que não nos é oferecido como prometem os cartazes espalhados por todo o lado.

Enfim! Esta conjugação de carnaval e dia dos namorados é sem dúvida das experiências traumatizantes da minha vida. Tanto como aquele ano em que na aldeia o meu pai e os vizinhos decidiram, num prenuncio de modernidade fazer sozinhos um desfile carnavalesco, enfeitando um tractor com grandes mimosas e vestindo roupas grossas e feias. Eu e a minha vizinha Mónica, amiga de infância com quem me disfarçava todos anos, fomos também, com máscaras de plástico e roupas velhas, com grandes sacos de farinha e uma animação mal contida. Desse dia quente só me lembro de acabar a chorar que nem uma madalena porque a meio do caminho, um homem bêbado que regressava a casa pôs-se à frente do tractor e ameaçou matar-nos a todos por lhe termos mandado farinha no cabelo.
Perante a risota geral dos homens que seguiam no nosso corso carnavalesco, eu chorei o resto da viagem, com medo do homem feio que ia matar de uma assentada o meu pai, os meus vizinhos e a minha melhor amiga. Ah como eu era triste!!!

Diante destas recordações e este dia infeliz, retomo novamente ao meu castigo e vou estudar com o sentimento azedo de estar sozinha sem coraçõezinhos e ditos bonitos. E confesso até que suportaria o anjo feio da pastelaria da frente se me fosse oferecido por um rapaz ardente e com olhos brilhantes. Aceitam-se currículos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Publicidade enganosa


Confesso que está mais na hora dos nossos deputados fazerem algo de útil e se decidirem a controlar a publicidade que passa na televisão. Porque uma pessoa influenciável e de inteligência limitada como eu, completamente dependente da televisão e de tudo o que a rodeia cai na publicidade enganosa e fica absolutamente confusa.

Até há um mês atrás a publicidade diária incluía bonbons, chocolates, rebuçados, bonbons amarelos e cor de rosa, de chocolate, caramelo, de leite e simples. Inúmeros e inúmeros doces e bolos e coisas magnificas. O Natal no seu auge, a aguçar sentidos e a gula.

Agora, ainda nem passou o carnaval, ninguém usa roupa vaporosa, ir à praia está fora de questão, e já chovem anúncios de produtos de emgracimento sem fim! Fico confusa, claro que fico! Andamos meio ano bombardeados com mensagens para comer que nem alardes, para depois sermos crucificados com um sentimento de culpa porque não temos as ancas da modelo fantástica que anúncia horas felizes e sobra celulite no fato de banho do ano passado. Bha!

Venham lá anuncios para emagrecer! Queremos milagres.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Greve em tempo de aulas! A minha triste experiência.


Hoje à hora do almoço decidi, num impulso inédito ver o telejornal. E digo num impulso inédito porque a hora de almoço para mim é dedicada a anatomia de grey, na fox life. No entanto, como seria a décima quinta vez que ía ver o episódio de hoje, inovei e decidi inteirar-me das noticias nacionais. Muito boa ideia. Fiquei com material para escrever que não acaba.


A noticia que mais me fez rir a bandeiras despregadas foi aquela em que os estudantes do ensino secundário sairam à rua em greve. Ah! Como eu recordo os meus tempos de estudante secundária! Que melancolia e nostalgia de ir a todas as aulas, no tempo em que ainda havia faltas e cartas para casa e chumbos por faltarmos a um certo número de aulas.


Em todo o meu percurso académico, que foi longo e não há maneira de acabar, fiz greve uma única vez. Pois é, meus senhores, que todos temos telhas de vidro e pecados a apontar. Andava no sétimo ano, estava um dia feio de inverno e cheguei à escola com a mochila pesada de livros e duas colegas já aos doze anos reaccionárias. A escola estava fechada e eu, que na minha inocência (e com medo de apanhar nas trombas quando chegasse a casa) me preparava para abrir os portões e entrar, fui apupada num coro de protestos, desde gorda graxista, a miuda parvalhona que te dou cabo do focinho se entrares. Fiquei cá fora, encolhida atrás dos outros, numa indecisão inquieta... apanhar porrada em frente a todos, ou quando chegasse a casa? Achei que a segunda opção era menos humilhante, porque econdida no recôndito do lar, e fui atrás dos outros, em marcha lenta até à vila, com cartazes improvisados, muitas risadas e gritos nada ensaiados. Foi um dia feio, com as costas a arder por causa da mochila cheia, escoltada por dois tipos grandes (que hoje em dia trabalham nas obras, têm dois filhos de cada mulher e embebedam-se como passatempo diário) que ameaçavam pontapear-me em praça pública se voltasse para trás.

E eu, que tinha doze anos não percebia que os meus ilustres colegas queriam nada mais nada menos que Educação Sexual nas escolas. Esse hino reivindicativo que os jovens lançam como bandeira agreste! Queremos saber o que é sexo! Somos tristes e infelizes que não temos internet, nem televisão. E repare-se que naquele tempo não havia mesmo internet ao acesso de todos, e os morangos com acuçar só mesmo como sobremesa. Mas sabiamos tudo sobre sexo (a não ser talvez eu, que tão ingénua só soube muita coisa na faculdade, essa escola da vida). Vistas bem as coisas, eu devia ser a primeira a reivindicar porque era talvez a mais ignorante no assunto, corando em beijos ardentes nas novelas e não percebendo já as piadas dos meus colegas mais espigadotes.

Adiante. À hora de almoço, como a fome apertava e maior parte de nós não tinha dinheiro, voltamos para a escola, molhados da chuva que entretanto começara a cair, com os cartazes feitos em lama e as vozes roucas e, em fila indiana, como meninos educados dirigimo-nos à cantina onde o comer era, se não me falta a memória, um peixe assado com batatas duras. Foi a minha primeira e única experiência com a greve. E fui tão coagida a fazê-la que hoje abomino greves e miudos mimados.

E hoje, muitos anos sobre aquele tempo de verdadeira greve uma moçoila, com cerca de 18 anos dizia que na televisão que "pá, as gravidezes na adolescência, pá! Temos que ter educação sexual porque pá, sem isso a gente não sabe". Santa paciência que não tenho. São tão infelizes os nossos adolescentes. Tão mal informados sobre o assunto, tão escondidos em tabus que não sabem o que seja preservativos.


Ah, e porque agora me lembrei, naquele dia fatidico da minha experiência de greve, à hora de almoço fui procurar o professor de geografia, que nos devia dar aulas de manhã e pedir-lhe por todos os santos para me desculpar. Agora que penso nisso, era um pouco betinha! E quando cheguei a casa, morta de dores de costas e fome e medo, e contei à minha mãe lavada em lágrimas da minha pseudo greve, vá-se lá entender as mães, em vez de me bater, abraçou-me e foi à escola dizer à directora de turma, para controlarem os miudos sem educação. E esta hem?